LEITURAS E MUNDOS: Programa de leitura. Clarice Lispector e o invivsível imaginário
Clarice Lispector é uma das mais importantes escritoras do século XX. A relação de Clarice Lispector com a escritura é uma relação de invenção de si mesma, de possibilidade de dar para si uma existência, é uma relação de pertencimento consigo e com o mundo. Na crônica Pertencer, ela nos diz: "Quem sabe se comecei a escrever cedo na vida porque escrevendo, pelo menos eu pertencia um pouco a mim mesma. O que é um fac-símile triste." Escrever é tantas vezes aprender a viver, como está exposto na crônica As três experiências: "Nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo". Em Um sopro de vida, livro onde dinamiza e expõe seu universo enquanto escritora, ela nos diz: "Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida". Tal confissão mostra que seu com a escrita é antes de tudo compromisso com a radicalidade de ser: "Eu não existiria se não houvesse palavra". "Eu escrevo para fazer existir e existir-me. Desde criança procuro o sopro da palavra que dá vida aos sussurros". Com tal compromisso Clarice tematiza a própria possibilidade da escrita, o fundamento sob o qual repousa e pulsa a inquietação que deseja ser dita: "Às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou às mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia." A busca pelo 'sopro da palavra que dá vida aos sussurros' será desde o início seu maior compromisso.
¬Clarice começa a escrever ainda quando criança, mas suas histórias dessa época não chegaram a ser publicadas e 'desapareceram'. Ainda na crônica, As três experiências ela nos diz: "Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei porquê foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós."
Perto do Coração Selvagem, primeiro trabalho de fôlego que vem a público e que aparece quando esta é ainda muito jovem, provoca inquietação e desconforto na crítica por trazer alguns elementos novos para a literatura brasileira, dentre eles, a paixão pela linguagem, o cultivo da densidade ontológica, o compromisso com a temporalidade que se mostra desde já como horizonte possível e permanente de apresentação do humano no conjunto de sua obra.
No trabalho da escritora a experiência com a linguagem chega a sutilezas tão profundas que leva Benedito Nunes a definir sua obra como sendo o drama da linguagem. Desde Perto do Coração Selvagem, sua primeira obra, passando pelo drama estesiásticamente vivido por Martin, herói de A Maçã no escuro, e redondamente completado por G.H., do romance A Paixão Segundo G.H., até o etéreo Água viva, a experiência com a linguagem é levada ao extremo de sua possibilidade revelando uma compreensão de homem centrada na categoria do discurso .
É por ter um conjunto de obra tão importante que iremos trabalhar sua obra 09 e 30 de maio, das 11:00 ás 12:00 e dias 10 e 31 de maio das 18:00 ás 19:00 na Faculdade ESUDA
Palestrante: Professora Fátima Costa
Professora Dra. Fátima Costa é professora da Faculdade ESUDA e da FAFICA
Local do evento: Sala 111
Data do evento: 09/05/2018 às 11:00